sexta-feira, 23 de julho de 2010

Escrita Na paisagem

"Arte no sítio

José Alberto Ferreira dirige o Escrita na Paisagem desde o início, em 2004. A edição deste ano, diz-nos, é a consequência de um percurso que começou com uma abordagem às formas de escrita sobre a paisagem, passando depois por conceitos como "mapear", "comer / cheirar / agricultura" ou "jogo / viagem / hospitalidade". É um festival que se vai disseminando pela paisagem. Uma programação que "pinga" ao longo de três meses um conjunto de propostas tão diversas como um concerto de uma banda cigana para os 180 habitantes da Aldeia da Luz ou as performances sexuais do alemão Félix Ruckert, "acontecimentos" dos anos anteriores, não espera, isso sabe o programador "ser compreendida". "Não é isso que nos move", diz.

O espírito do Escrita na Paisagem é outro: criar uma plataforma de reflexão mais alargada em que os espectáculos se tocam, em vez de se cruzarem. Esse toque, "essa presença no território", distingue o Escrita na Paisagem. Esta programação não poderia ser feita noutro lado. "É evidente o desafio à centralidade. Queremos evitá-la. Não torna o que fazemos mais fácil, mas torna-o mais coerente", assume. Ao longo dos três meses do festival, o que se vai mostrando, independentemente do formato disciplinar - e convivem aqui as exposições, a dança, o teatro, a poesia, a música ou a performance -, "dá conta de uma vontade de falar com as pessoas, de as ter presentes".

Para José Alberto Ferreira, o Escrita na Paisagem não é apenas um festival. É, de facto, "um ponto de encontro". Ao longo dos últimos anos tem procurado que a programação contrarie a superficialidade das agendas culturais dos muncípios. Tal como Armando Valente, reflecte sobre o corpo estranho que instalou no Alentejo. Ambos sabem que o que apresentam, e o modo como o defendem, está a anos-luz do que falamos quando falamos de projecto cultural para uma cidade. Tanto o Citemor como o Escrita na Paisagem são momentos isolados numa programação municipal, mesmo que o trabalho seja contínuo, sempre puxado por equipas pequenas, aquém das necessidades, com orçamentos mínimos, e sem parceiros com quem dialogar. O que fazem, e o modo como o fazem, resiste, inclusivamente, à própria lógica de festivais de Verão. Mas o que lhes corre nas veias não é sangue, é outra coisa. Sabem, sobretudo, que é ali que tudo se faz. E que o Verão, mesmo longe de tudo, pode fazer a diferença."

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