tardes da minha terra doce encanto
como eu vos quero e amo tanto tanto horas bem ditas leves como penas
horas de fumo e cinza horas serenas horas de dor em que sou santo
feixo as palpebras roxas quaze pretas que pouzam como duas violetas
azas leves cansadas de voar
e minha boca tem uns beijos mudos e minhas maos uns palidos veludos
que traçam gestos de sonho pelo ar

como eu vos quero e amo tanto tanto horas bem ditas leves como penas
horas de fumo e cinza horas serenas horas de dor em que sou santo
feixo as palpebras roxas quaze pretas que pouzam como duas violetas
azas leves cansadas de voar
e minha boca tem uns beijos mudos e minhas maos uns palidos veludos
que traçam gestos de sonho pelo ar
Árvores do Alentejo Horas mortas...
curvadas aos pés do MonteA planície é um brasido...
e, torturadas,As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol postonte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
curvadas aos pés do MonteA planície é um brasido...
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol postonte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
-Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
Florbela Espanca